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Saco de papel ou de plástico?

Entre um saco de papel eco-agradável e um Saco de Plástico de reputação arrasada, qual devemos escolher para transportar as nossas compras? O de papel, diz a nossa consciência.

 

Mas será esta a escolha certa? Poderia ser, mas ainda não é.

 
 
Foto de Giftpundits

Uma das falácias inteligentes mas perversa que nos foi ensinada e que aceitámos comodamente, foi o de pagarmos um preço irrisório pelos sacos de plástico que transportam as nossas compras. O valor que pagamos funciona como um castigo sobre o facto de não termos levado um saco de casa para o efeito e por isso o nosso esquecimento ajuda a perpetuar a contínua produção de mais sacos plásticos para satisfazer as nossas necessidades. Mas esta taxa é moralista porque faz recair a responsabilidade do uso dos plásticos no consumidor, e é perversa porque beneficia alguém, e esse alguém não é a Terra.

Não é pagando cêntimos por um saco que os consumidores tomam consciência do problema ou mudam de hábitos de forma efetiva, nem o expectável incentivo à reutilização dos sacos irá funcionar em grande escala. Nem a solução passa por substituir o plástico por papel já que o consumidor – sem ter alternativas sustentáveis à mão – mais facilmente continuará a usar e deitar fora, ou a colocar de imediato a reciclar sem reutilizar o maior número possível de vezes, seja o plástico ou o papel. Ainda assim, pensemos na hipótese de que reutilizamos uma sacola de papel dez vezes antes de ela começar a rasgar e a perder a sua função, e a separarmos para reciclar. Se considerarmos os milhões de sacos produzidos e adquiridos por mês em qualquer país, sejam eles de plástico ou papel, a solução de reutilização também não parece ser a mais viável ou saudável para o ambiente já que a produção destes produtos continua a ser massiva para responder a uma procura massiva por parte do consumidor. Se todos tivéssemos reduzido o consumo e reutilizássemos como prioridade, a situação poderia eventualmente melhorar a curto prazo. Como esta meta só será alcançada com políticas e medidas altamente restritivas, resta-nos aguardar por legislação eficaz e que leve à mudança do sistema como um todo, penalizando as indústrias e convidando-as a encontrar meios, produtos e modos sustentáveis. Felizmente no final de 2018 a Comissão Europeia lançou medidas de restrição e metas a cumprir pelos países relativamente às embalagens plásticas e certos produtos plásticos. É um passo importante.

 
 

Entre escolhas do consumidor e a legislação que nos levará por novos caminhos, também será importante equacionar que o saquinho de papel castanho que levamos satisfeitos para casa em vez do saco de plástico poderá provir de indústrias de extração de madeira que têm criado uma destruição ecológica de grandes proporções, particularmente em regiões tropicais, que é como quem diz, em países mais pobres e mais permeáveis ao poder das grandes corporações da Europa e de outras regiões. Esse saquinho alimenta um sistema de exploração de recursos naturais e de exploração humana que alimenta o desequilíbrio social e económico entre sociedades. A relação entre indústrias de extração de madeira e quadros de guerra em determinados países, chamada de «Madeira sangrenta», tem sido denunciada em investigações jornalísticas e de organizações ambientalistas, à imagem do crime dos diamantes de sangue que também acontece em alguns países com as mesmas características.

A solução para a exploração de madeira e produção justas e sustentáveis de papel passará por florestas com uma política de gestão sustentável, preferencialmente de âmbito nacional, e que deverá ser totalmente transparente para a sociedade de forma a podermos rastrear o processo e conhecer a sua pegada ecológica. Ainda assim, a tónica para a mudança de comportamentos deverá passar em primeira mão pelo ensino e incentivo à redução do consumo e à reutilização de forma a que impactos negativos como as ilhas de plástico nos oceanos, a exploração humana e o volume de lixo diminuam, entre tantos outros que ficam por enumerar.

 

O mito da opção sustentável e inteligente pelo saco de papel é aquilo a que a designer Leyla Acaroglu chama de ‘folclore ambiental’, ou seja, escolhas politicamente corretas que nos ensinaram a fazer, para nos sentirmos aliviados em relação aos estragos que corporações, indústria e consumidores provocam no ambiente. Mas é como esconder o sol com a peneira.

Contudo, há muitas razões para não entrarmos em desespero porque a possibilidade de fazermos efetivamente alguma coisa para mudar o estado lamentável da realidade existe e está em curso. Por exemplo, a procura por produtos sem embalagem ou de embalagem não plástica, de longa duração ou de produção local é tal que somente no nosso país conseguimos encontrar lojas, marcas, negócios caseiros e produtos que nos ajudam a reduzir substancialmente o volume de embalagens dentro de casa: seja optando por champôs sólidos em vez dos vulgares champôs em frasco, sabonete em vez de gel de banho, desodorizantes em barra que compramos avulso, detergentes para a casa a granel, escovas de dentes com a cabeça substituível, estes são alguns exemplos de escolhas eco-saudáveis que podemos fazer. As opções existem e representam uma forma consciente e sustentável de viver e nos relacionarmos com a Terra. Ou, caso a relação com o planeta não seja o nosso principal motivador de mudança, podemos olhar para estas escolhas pelo impacto menos danoso na nossa saúde. Quanto menor for o contacto do nosso corpo com plásticos e químicos, e quanto mais limpa estiver a nossa casa de tóxicos, menor será o impacto negativo a nível pessoal, e maior o impacto positivo a nível global.

 

São pequenas grandes ações positivas para com o planeta e a sociedade.

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